Glauner Pereira

Autor

Menu
  • Início
  • Glauner
  • Livros
Menu

Podemos falar de “Cristianismo Zen” e “Cristão Zen”? Contextualização ou Sincretismo?

Posted on 19 de Maio, 202520 de Maio, 2025 by Glauner da Silva Pereira

Em contextos budistas, missionários cristãos procuram pontos de contato ou analogias no Budismo, que sirvam para uma comunicação contextualizada do evangelho. Traços da outra religião podem ser aproveitados nessa tarefa de compor uma mensagem cristã transcultural. O perigo desse procedimento é a fé cristã ser tão afetada pelo Budismo, a ponto de desfigurar-se. Por isso, a tarefa da contextualização do evangelho deve ser manter longe do sincretismo, em que há uma interpenetração de duas religiões.

Então perguntamos: Até que ponto é viável um Cristianismo Zen?

A palavra zen é japonesa e significa “meditação”. A prática do zen se chama zanzen, “meditar sentado”. O objetivo do zanzen é o esvaziamento da mente, excluindo ideias, desejos e temores. O objetivo final, difícil de alcançar, é a iluminação, que traz consigo a serenidade.

O Zen se distingue do Zen-Budismo, de onde, todavia, veio.

William Johnston, autor católico, escreveu o livro Cristianismo Zen: Uma forma de meditação, no qual afirma que lhe parece que “os cristãos podem tirar bastante proveito do método zen para aprofundar a sua fé cristã”.1 Não posso concordar. Também que “os cristãos podem praticar a meditação à maneira zen estando ao mesmo tempo plenamente conscientes de Deus e sem fazer dele um objeto de pensamento”.2 Mas não fazer de Deus objeto do pensamento já põe a meditação Zen e a meditação cristã em posições contrárias.

O autor continua: “Eu, por mim, penso que se o Cristianismo Zen aspira a ser cristão e não meramente Zen, ele deverá, de algum modo, centrar-se em Cristo e fundamentar-se nas Escrituras.”3 De algum modo ou fundamentalmente?

Perguntemos agora: Qual é a situação em que o cristão pode alcançar a mais profunda paz e serenidade, em meio aos seus temores, anseios, aflições etc.? Será ficando em silêncio, na posição que seu coração pedir,4 e procurar, pela fé, perceber a presença de Cristo, de Deus, o Pai, e do Espírito Santo. Estamos falando de um momento de espiritualização profunda em que a pessoa se esvazia de tudo que é ruim e é tomada pela paz divina. O que poderia faltar aí, que o Zen poderia acrescentar? Nada.

A espiritualidade cristã pode ser considerada o cumprimento dos anseios do Zen; é o Zen levado à sua plenitude, pois, enquanto o zanzen busca a iluminação pelo esvaziamento da mente, na meditação cristã é o resplendor da glória de Deus que põe as coisas ruins para fora da mente do crente.

Sentir o Espírito Santo permeando o nosso ser é a mais agradável experiência da meditação centrada em Cristo. A meditação cristã se eleva em oração.

“Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor, rocha minha e libertador meu!” (Salmos 19:14)

“A minha meditação a seu respeito será suave; eu me alegrarei no Senhor.” (Salmos 104:34)

Meditação do coração perante a face de Deus, meditação “suave”. Dela o crente sai alegre.

Johnston fala de “recintos de meditação zen-cristã”.5. Lugares aconchegantes e silenciosos transmitem paz e ajudam na concentração para a meditação. Mas se havemos de falar de “zen cristão”, poderia ser como uma contextualização em que um novo sentido, cristão, é atribuído ao zen; assim como o logos da filosofia grega foi trazido pelo apóstolo João para se referir a Cristo, o logos que se fez carne e que liberta. O conceito gnóstico do logos não contaminou a fé cristã porque foi depurado do que não servia e enchido com a verdade cristã.

………………..

 

  1. Trad. de Hugo Mader. São Paulo: Cultrix, 1971. p. 21.
  2. Ibid., p. 28.
  3. Ibid., p. 49.
  4. Que saber? “O Zen e a meditação podem mesmo ser praticados pelo doente no leito, como acontece muitas vezes.” Johnston, ibid., p. 103.
  5. Ibid., p. 55.
Category: Contextualização Espiritualidade/Santidade Missiologia Religião Teologia

Navegação de artigos

← O Genocídio de Indígenas Incas na América Latina pelos Conquistadores Espanhóis no Séc. XVI
Quem Será o Meu Amor? →
© 2025 Glauner Pereira | Powered by Minimalist Blog WordPress Theme