Quem responde é um dos mais destacados eruditos do Antigo Testamento o alemão Hermann Gunkel, em sua obra Israel e Babilônia: A Influência da Babilônia sobre a Religião Israelita:
A narrativa do Dilúvio é uma lenda, é poesia, assim como existem muitos tipos de poesia e também muitas lendas no Antigo Testamento. Este não é um julgamento de irreverência e descrença, mas um julgamento inteiramente compatível com a piedade e a devoção; pois as lendas são o bem mais precioso que um povo antigo possui e são particularmente capazes de expressar as ideias da religião. Que espetáculo lamentável é quando a piedade ansiosa de certos círculos, em triste aliança com a lamentável ignorância, teme a poesia do Antigo Testamento, a poesia mais magnífica do mundo![1]
Para Gunkel, a narrativa do dilúvio, por exemplo, não é uma narrativa histórica, no sentido estrito, mas uma “uma narrativa poética, popular, ou seja, uma lenda”,[2] sabendo-se que, por lenda, nesse caso, não se quer dizer mentira ou falsidade, mas justamente poesia.
1 Israel und Babylonien, Der Einfluss Babyloniens auf die israelitische Religion. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1903. p. 20. Tradução nossa.
2 Ibid. Tradução nossa.